Os meus dias tem perdido a característica de conto, por isso pouco tenho escrito as palavras jogadas que tenho costume de arremessar na vida alheia. Tornou-se romance – ou quase isso – que não mais se transcreve em poucos parágrafos de frases de efeito. Por vezes, deixei em branco a folha na qual me propus a preencher de letras em preto e amor, pois olhava, míope, para dentro de mim mesma e nada vinha, se não, ainda a dúvida de algo que ainda estava em formação. E foi na busca de um caminho para a certeza que buscava que me encontrei em grandes apuros.
O amor, o romance nos desafia a convicção, por vezes nos tira a paciência, e pode também acabar nos subtraindo alguns poucos anos de vida, mas responda-me com sinceridade: Quando você supões a real ideia de viver sem ele?
A tendência é que nossas expectativas por outras pessoas comecem a se aproximar cada vez mais da realidade, e isso acontece com a gente também. Passamos a prometer menos, mentir menos, e em alguns casos começamos a achar que também erramos menos. É como andar em um campo minado, sabendo onde cada “BOOM” está escondido. Não queria citar, mas no amor, a única certeza que podemos ter é de estarmos sempre em apuros. Um oceano onde nos obrigamos a boiar para não afundar no mar indecifrável que é a vida da pessoa pela qual decidimos arriscar.
Em apuros porque é perigoso. Perigo só existe para quem arrisca. E você só arrisca se quiser. De certo, ninguém nos obrigada a viver um romance, mas quem não ama vivê-lo? Ninguém te encosta na parede e diz que você será obrigado a sofrer de novo, mas é inevitável não querer se quebrar novamente só para sentir o crescimento pessoal ao se reconstruir. A quem ache que pode viver sem amor, mas eu duvido da verdade dessa afirmação. Estamos fodidos, lascados e mal pagos. Isso é notável em uma noite ébria.
Em apuros não estou sozinha, na verdade estamos eu, você, a sua amiga aí do lado, todos nós. Romance, amor, paixão é o que perseguimos pelas esquinas de nossas cidades. Em perigo estamos nós, nesse apuro que vive em nossa urgência em viver o amor. Vivê-lo, mesmo que seja torto, ferido, inacabado, errado, precipitado, incompreendido, impossível. Queremos, buscamos, nos prometemos vivê-lo de verdade, sem escudos ou armaduras. É assim que deve ser.
Mas como eu sei que é amor? Eu não sei vocês, mas a sensação que eu tenho é como se a vida tivesse me dado uma rasteira daquelas de quicar no chão. De susto o coração bate mais forte, e automaticamente seus olhos são voltados para os dela. É assim comigo.
No fim, viver um amor é estar em graves apuros.
E fica um pedido, por favor, assim que em apuros eu estiver, avise a todos que não quero ser salva. Aceito o risco.
Crônica por @jessicaotte