O amor não valia mais…

… e aí me vi deixando de ser. Por que nos permitimos a isso? Eu tinha orgulho de mim, quando às 18:30h em uma quarta-feira estava atravessando a Avenida Faria Lima com uma rosa na mão, cortando e comovendo os olhares frios das pessoas que moram nessa cidade tomada pelo egocentrismo de seus próprios problemas. Mas deixei de ser. Eu batia no peito e partia para cima quando alguém dizia que o amor não valia as noites mal dormidas, o dinheiro perdido em cineminhas nas sexta-feiras que deveriam ser divididas com os amigos e algo alcoólico para beber. Mas novamente, eu deixei de ser. Comecei a tropeçar no flagelo do meu próprio desamor, a me incomodar com o meus olhos aguados após ler Mario Quintana, a achar que Caio Fernando Abreu sabia de antemão das minhas dores. Tornei-me um egoísta em meu próprio martírio.

Me percebi inapta a ficar com a cabeça leve, e aceitar a impossível realidade de tornar-me descrente do amor quando hoje, ao entrar em uma loja de conveniência vi a seguinte mensagem em uma caixa de bombom: “Porque o amor sempre vale a pena.”

Aquela frase me bateu na cabeça, me fez refletir sobre toda a desordem criada dentro de mim, ao ponto de me fazer ser algo, uma máscara, que mesmo falando de amor, escrevendo sobre ele, se nega a tentar vivê-lo novamente por puro e ridículo medo de ser.

Medo de ser especial para alguém e tornar-me motivo de lágrimas, medo de ser o motivo do sorriso alheio e logo após também ser a razão para os olhares caídos. Medo de ser o bem e o mal de outra pessoa, e saber que este também poderá ser, em suas bifurcações, o meu céu e inferno. Medo pra lá, medo pra cá, e nós deixamos de ser especiais para alguém.

Um dia eu quis escrever bonito, falar de amor, entregar flores, fazer sonhos, torná-los planos e construir a quatro mãos uma história. Mas, deixei de ser. Deixei de crer nas pessoas, em seus sentimentos e em suas promessas, mas não no amor. Ele vale a pena, ele vale se deixar ser, se deixar levar, se deixar sentir.

Mas estou transcendendo e aprendendo que, mesmo que seja por pouco tempo, mesmo que eu me arrependa depois, mesmo que doa e muito, é válido me deixar ser para alguém. A possibilidade de voltar a virar as esquinas de São Paulo, com rosas na mão e com olhos brilhando me faz ser novamente, aquilo que eu nunca deveria ter deixado.

“A gente precisa ter o coração partido algumas vezes. Isso é um bom sinal, ter o coração partido, quer dizer que a gente tentou alguma coisa.” (Comer, Rezar, Amar)

Crônica por: @jessicaotte

9 comentários sobre “O amor não valia mais…

  1. A cada dia que passa eu acredito mais e mais que você é a pessoa certa pra mim.
    Lindo texto e pode me mandar a rosa. Eu aceito.

  2. Meu deus, tudo isso por uma caixa de bombom?
    Imagina se você me encontra por ai, o que não causaria hahaha. Nada né, já tropecei em você na faculdade e você me olhou com cara de – oi?.

    Acreditar no amor é o mais importante, nas pessoas, elas sempre vão magoar seu coração.

  3. Toda vez que leio um texto lindo como esse seu, principalmente quando é você que escreve fico pensando no porque você não namora ou não (aparentemente) tem um relacionamento com alguém. Opção?

  4. Você consegue ser tão linda e escreve tão bem que eu acho que infartaria só de receber um olhar seu na rua, imagina uma carta. Acredita no amor sim, nas pessoas, em tudo. As vezes a pessoa ideial tá do seu lado e você nem percebe.

  5. Muito lindo… Sinceramente, espero que os homens modernos se libertem do egocentrismo para prestar mais atenção naquela pessoa que faz o dia valer a pena.
    Mais amor por favor!

  6. Jessica Otte ‏@jessicaotte
    “Deve ser um cometa daquele lá sabe que voa uma vez na vida de cada um .Vc é um desse na vida das pessoas, surreal” Recebi e chorei! =(

    Concordo plenamente com quem te definiu. Agora por favor pode passar pelo meu céu também?

  7. amor é algo maior. maior que as pessoas, maior que o mundo, que a existência. amor é algo que deve ser sentido, doado, compartilhado. não se deve mensurar, muito menos esperar algo em troca. quando se sente amor, há uma via de mão única: doa-se o amor, e o que a outra pessoa fará com isso, não se sabe. nem precisa.

    amor é algo que se aprende não a “domar”, mas a deixar livre, e se ele volta, é que é sincero.

    é que é pra ser. e sim, vale a pena. sempre.

    beijo e se cuida.

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